Momoskine: terceira edição

Danilo Matoso Macedo
– dez. 2020 –

Chegamos à terceira edição de “Brasília : roteiro de arquitetura, caderno de notas” – o nosso “Momoskine Brasília”. Passados quase dez anos desde a primeira tiragem, achei oportuno compartilhar um pouco da trajetória dessa pequena publicação. Talvez expondo um pouco de nossas motivações, penas e conquistas, outros colegas se sintam inclinados a produzir publicações análogas em suas cidades.

Em 2009, o Núcleo Docomomo Brasília decidiu aceitar o desafio de sediar o seminário nacional de 2011, ao qual acorreriam mais de quatrocentos participantes de todo o Brasil – além de diversos convidados de outros países.  Em seminários de arquitetos – além da programação, de um bloco de notas e dos anais – é costume  a produção de pequenos roteiros fotocopiados com obras arquitetônicas de interesse que os participantes possam visitar. Naquele momento especial, um ano após o cinquentenário da Capital Federal, entendemos que conviria dar às centenas de participantes do prestigioso evento uma lembrança mais duradoura de sua estada na cidade que é maior realização de nossa Arquitetura Moderna. Decidimos então fundir duas ideias. Por um lado, a do “Moleskine Cities”, que soma roteiros urbanos ao caderno de notas favorito dos arquitetos há mais de cem anos. Por outro lado, a de um tríptico dobrável chamado “Belo Horizonte: itinerário da Arquitetura Moderna”, de autoria de Alberto Xavier, Cláudia Lage, Flávio Grillo e Regina Costa. Ele fora editado pela Pini em 1985, por ocasião do XII Congresso Brasileiro de Arquitetos, com texto introdutório, mapas e 90 verbetes contendo, para cada obra, foto, endereço, autores e ano de projeto. O nosso roteiro seria um “Moleskine do Docomomo”, ou um “Momoskine” – como até hoje apelidamos o guia.

 

Para seleção das obras e extração das informações necessárias, partimos do “Guia de Urbanismo, Arquitetura e Arte de Brasília”, de Andrea da Costa Braga e Fernando A. R. Falcão (Fundação Athos Bulcão, 1997) e do “Brasília: guiarquitetura”, coordenado por Dulce Soares, com pesquisa e textos de Sylvia Ficher e Geraldo Nogueira Batista (Empresa das Artes, 2000). Além disso, com o cinquentenário de Brasília em 2010, havíamos logrado editar pela Câmara dos Deputados o “Guia de Obras de Oscar Niemeyer: Brasília 50 anos” (Edições Câmara, 2010), produzido por Sylvia Ficher e Andrey Schlee com fotos de Joana França para o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/DF) quando do centenário de nosso arquiteto maior em 2007. Para ampliar o escopo de obras, contamos com o expressivo número monografias acadêmicas e publicações da década anterior que tratavam dos arquitetos e temas da cidade, dentre os quais “Brasília: a invenção da superquadra” (Iphan, 2008), de Marcílio Mendes Ferreira e Matheus Gorovitz – publicado originalmente com apoio do Núcleo Docomomo Brasília. Naquele trabalho inicial de compilação das obras, colaboraram ativamente Elcio Gomes da Silva e Andrey Schlee – Joana França assumiu a hercúlea tarefa de fotografar as 251 obras e Ricardo Theodoro criou a bela e sintética feição gráfica que o roteiro apresenta até hoje. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), então presidido por Julio Cesar Peres, ofereceu o apoio financeiro decisivo para a realização.

A edição inicial, de mil exemplares, esgotou-se rapidamente após o evento. Em 2014, diante dos reiterados pedidos de amigos e visitantes pelo “Momoskine”, decidi fazer uma segunda edição. Para isso, contei com o apoio de Pedro Paulo Palazzo, professor da UnB que então organizava com Maria Fernanda Derntl e outros colegas o XIII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo. Além de encomendar 500 exemplares da tiragem, eles ofereceram uma generosa revisão de texto – incluindo de tradução. A Galeria Oto Reifschneider e a loja BSB Memo assumiram a comercialização dos outros 500 exemplares que patrocinei pessoalmente. Pude ali revisar o recorte das obras com mais apuro. Por um lado, excluí aquelas fora do Plano Piloto, por acreditar que o tratamento das cidades satélites só poderia ser incluído satisfatoriamente se feito de modo sistemático e amplo, análogo àquele com que lidáramos com o Plano Piloto. Por outro lado, foi possível dar tratamento mais aprofundado à Escala Gregária – tarefa garantida pelo levantamento de material primário que fizemos junto à Administração de Brasília. Essa pesquisa, assim como a nova diagramação, foram feitos com bastante competência por Mariana Bomtempo. Em menos de um ano também essa edição havia se esgotado.

Em 2019, quando preparávamos as comemorações do aniversário de 60 anos de Brasília, sugeri ao Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) uma terceira edição. A proposta, feita no âmbito do Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU), que eu compunha como Coordenador do Sindicato dos Arquitetos do Distrito Federal (ArquitetosDF), foi prontamente aceita por todos e acatada com especial entusiasmo pelo presidente Daniel Mangabeira. Os conselheiros aprovaram a ideia e iniciei prontamente ao trabalho de acrescentar mais quarenta obras ao roteiro – sobretudo no Setor Comercial Sul, que também ganhou um mapa próprio –, por meio de pesquisa de material primário encomendada a Cristina Nakamura. Foi uma tarefa levada a cabo com certa dificuldade desse ano atípico de pandemia, em que o convívio social e mesmo a saída às ruas se viram brutalmente limitados – ensejando o cancelamento de diversos eventos previstos para o aniversário da cidade. Aqui, como nas edições anteriores, Joana França segue a cargo da fotografia, trazendo-nos ainda o auxílio decisivo de Juliana Dullius, que assumiu a diagramação. Sempre com os apoios irrevogáveis do CAU/DF e do Docomomo Brasil (que se encarregou do registro do livro), conseguimos dar aos prelos em dezembro a terceira edição do roteiro.

Os guias e roteiros têm uma propriedade especial para os arquitetos, despertando entre nós especial empatia. Ao dar autoria e data às construções de modo sistemático, é como se nos apropriássemos da cidade – como corporação de ofício. Surgem “um prédio de tal arquiteto”, “uma quadra daquele outro arquiteto”, e assim – pelo menos entre nós – nos assenhoramos a nosso modo do espaço urbano. Evidentemente somos apenas coadjuvantes –  atrás do povo, das lutas econômicas e políticas. Mas ainda parece justo dar aos arquitetos algumas dezenas de páginas em branco nessa matreira carta de posse. Quem sabe ali não se formam alguns verbetes das edições futuras?


Brasília : Roteiro de Arquitetura, caderno de notas

3ª edição

Uma prática mistura de bloco de notas com guia de arquitetura de Brasília, este livro de bolso permite aos visitantes e habitantes registrar os detalhes de seus percursos, orientados por mapas e pela listagem de quase 300 obras.
Os edifícios são apresentados em pequenas fichas – cada uma com foto, indicação de autoria e data –, dispostas de acordo com as “quatro escalas” conceituadas por Lucio Costa para o Plano Piloto: “Monumental”, “Gregária”, “Residencial” e “Bucólica”.
Fruto de criteriosa pesquisa e cuidadosa elaboração – indexado, com textos em português e inglês – o livro é um companheiro confiável para todo aquele que se interessa pela arquitetura de Brasília.

O guia foi editado pela primeira vez em 2011, pela editora da FAU-UnB, como material de apoio ao 9º Seminário Docomomo Brasil, com segunda edição pela mesma casa em 2014. A terceira edição, revisada e ampliada, foi financiada pelo Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) e editada pelo Comitê Internacional para a Documentação e Preservação de Edifícios, Sítios e Unidades de Vizinhança do Movimento Moderno (Docomomo Brasil), no âmbito das comemorações do aniversário de 60 anos de Brasília.

Os exemplares serão distribuídos na sede do Conselho a partir de janeiro de 2021.

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Brasília : roteiro de arquitetura, caderno de notas. Rio de Janeiro: Docomomo Brasil, 2020.
Uma produção do Núcleo Docomommo Brasília

Organização: Danilo Matoso Macedo e Elcio Gomes da Silva.
A partir de pesquisas anteriores de Sylvia Ficher e Andrey Schlee, com colaboração de Mariana Bomtempo (2.ed., 2014) e Cristina Nakamura.
Fotos: Joana França
Projeto gráfico: Ricardo Theodoro de Almeida Soares
Projeto gráfico (3.ed.): Juliana Dullius

Texto em português e inglês.

14 X 9 cm

3 respostas para “Momoskine: terceira edição”

  1. Olá, parabéns pela inciativa de reedição. Como é possível adquirir um exemplar? Estou no Rio de Janeiro. Obrigada

  2. Sucesso, Danilo!!!!
    Parabéns!!!
    Louca pra acabar a pandemia e dar uma passadinha em Brasília e buscar um, deve estar fantástico 🥰.
    Saudades infinitas desse lugar maravilhoso

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